
Mal ingressou na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, em 1888, Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha foi expulso. Era só um jovem oficial de 22 anos quando, na frente do ministro da Guerra, partiu uma espada no joelho enquanto gritava, ensandecido, palavras de ordem abolicionistas e republicanas. O ato de rebeldia lhe custou também alguns meses de prisão e a decretação de baixa no Exército. Só um ano depois do episódio, com a proclamação da República, foi readmitido na escola e realizou seu maior sonho: formou-se em Engenharia Militar. Euclides da Cunha foi um osso duro de roer para muita gente. Embora se dissesse um "nativista incorrigível", achava que a culpa pelo atraso do País era de "nossa pobreza orgulhosa, nossa inaptidão e nossa preguiça". Desiludido com a República que apoiou, não poupava ofensas ao Exército e ao nosso governo.
Estudioso incansável dos problemas sociais do Brasil, foi convidado por Júlio de Mesquita, dono do jornal O Estado de S. Paulo, para ser correspondente em Canudos, sertão da Bahia, em agosto de 1897. Os militares promoviam um massacre na vila de fanáticos religiosos liderados pelo beato Antônio Conselheiro - 15 mil sertanejos e 12 mil soldados morreram no combate. Da cobertura surgiu o mais brilhante relato jornalístico já escrito até hoje no Brasil - Os sertões, em que Euclides criticou duramente a ação levada a cabo pelo major Moreira César.
Oposição ferrenha
Não era homem de ficar calado se via alguma coisa que não lhe agradasse. Fez ferrenha oposição à reforma ortográfica da Academia Brasileira de Letras que tirou as letras k e y do nosso português, em 1907. Detestava automóveis, achava o ronco do motor muito barulhento e não se furtava a bradar críticas contra as máquinas recém-chegadas por aqui.
Talvez preferisse a calma de Santa Rita do Rio Negro, cidadezinha do interior do Rio de Janeiro, onde nasceu a 20 de janeiro de 1866. Aos três anos, perdeu a mãe e, desde então, não parou mais em lugar nenhum. Morou com todos os tios e tias da família, em vários lugares diferentes até chegar ao Rio. Aprendeu a se virar cedo. Descobriu que queria ser militar, mas depois da publicação de Os sertões não abandonaria mais a vida de jornalista, se dedicando com afinco a tudo o que pesquisava e escrevia.
A impressão da primeira edição do livro na tipografia ele acompanhou bem de perto. Revisou nada menos que dois mil exemplares, um a um, e corrigiu manualmente 80 erros (um total de 160 mil erros). Alguns dias antes do lançamento, em 1902, com medo da represália dos militares, o jornalista cavalgou durante oito dias pelo interior de São Paulo. Foi de Lorena a Taubaté, uma viagem longa que podia ter sido feita de trem. Na volta, encontrou duas cartas de seu editor. Na primeira que abriu, o homem se dizia arrependido pela publicação e lamentava o fracasso do livro. Ficou preocupado e abriu a segunda carta enviada. O editor tinha mudado de idéia. Contava que Os sertões já era um sucesso, vendera mil exemplares em seis dias - um número exorbitante para a época. Por fim, o editor aconselhava Euclides a voltar logo para dar entrevistas. O que ele fez imediatamente, depois de passado o susto. O livro é hoje um dos maiores fenômenos editoriais brasileiros, com mais de 50 edições em 97 anos.
Sequência de tragédias
Decidiu abandonar a carreira militar, mas antes usou a engenharia para chefiar a Comissão de Reconhecimento do Alto Purus, na fronteira do Acre com o Peru, em 1904. A missão de Euclides era preparar um mapa das nascentes do rio Purus. A expedição levou dois anos e foi uma sequência de tragédias. O jornalista contraiu malária logo no início da aventura e quase morreu. Saindo de Manaus, a tropa foi obrigada a abandonar os barcos a vapor, que deixaram de funcionar, e fazer boa parte do percurso a pé, se arrastando pelas águas. Como se não bastasse, a canoa que levava os mantimentos afundou. Só depois de quatro meses chegaram à cabeceira do rio, famintos. Na volta, denunciou nos jornais o trabalho escravo nos seringais do Acre e defendeu a preservação do meio ambiente. Seus mapas serviram de base para a delimitação da fronteira entre Brasil e Peru. Em 1906, chegando ao Rio, onde morava com a família, encontrou Ana Ribeiro, sua esposa, grávida de poucos meses. Era impossível que Euclides fosse o pai. Só três anos depois descobriu que o amante era o oficial Dilermando de Assis, de 17 anos. Saiu de casa armado, em 15 de agosto de 1909, dizendo que iria "lavar a honra com sangue". Mas não teve sucesso. Na estrada Real de Santa Cruz, no bairro da Piedade, encontrou o jovem e atirou duas vezes, mas errou ambas. Dilermando, ótimo atirador, respondeu com um tiro na testa de Euclides, que morreu ali mesmo. Tinha 43 anos e ocupava a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras.
VOCÊ SABIA?
Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, foi o engenheiro responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo (SP). A obra demorou três anos para ficar pronta e, alguns meses depois de inaugurada, a ponte simplesmente ruiu. Ele não se deu por vencido e a reconstruiu. Mas, por via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro.
OBRA-PRIMA:
· Os sertões (1902)
· Castro Alves e seu tempo - conferência publicada (1907)
· Contrastes e confrontos - reunião de artigos (1907)
· Peru versus Bolívia - reunião de artigos (1907)
· À margem da história (1909)
· Canudos - Diário de uma expedição (1939)
Fonte: http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/literatura/lit10.htm
Estudioso incansável dos problemas sociais do Brasil, foi convidado por Júlio de Mesquita, dono do jornal O Estado de S. Paulo, para ser correspondente em Canudos, sertão da Bahia, em agosto de 1897. Os militares promoviam um massacre na vila de fanáticos religiosos liderados pelo beato Antônio Conselheiro - 15 mil sertanejos e 12 mil soldados morreram no combate. Da cobertura surgiu o mais brilhante relato jornalístico já escrito até hoje no Brasil - Os sertões, em que Euclides criticou duramente a ação levada a cabo pelo major Moreira César.
Oposição ferrenha
Não era homem de ficar calado se via alguma coisa que não lhe agradasse. Fez ferrenha oposição à reforma ortográfica da Academia Brasileira de Letras que tirou as letras k e y do nosso português, em 1907. Detestava automóveis, achava o ronco do motor muito barulhento e não se furtava a bradar críticas contra as máquinas recém-chegadas por aqui.
Talvez preferisse a calma de Santa Rita do Rio Negro, cidadezinha do interior do Rio de Janeiro, onde nasceu a 20 de janeiro de 1866. Aos três anos, perdeu a mãe e, desde então, não parou mais em lugar nenhum. Morou com todos os tios e tias da família, em vários lugares diferentes até chegar ao Rio. Aprendeu a se virar cedo. Descobriu que queria ser militar, mas depois da publicação de Os sertões não abandonaria mais a vida de jornalista, se dedicando com afinco a tudo o que pesquisava e escrevia.
A impressão da primeira edição do livro na tipografia ele acompanhou bem de perto. Revisou nada menos que dois mil exemplares, um a um, e corrigiu manualmente 80 erros (um total de 160 mil erros). Alguns dias antes do lançamento, em 1902, com medo da represália dos militares, o jornalista cavalgou durante oito dias pelo interior de São Paulo. Foi de Lorena a Taubaté, uma viagem longa que podia ter sido feita de trem. Na volta, encontrou duas cartas de seu editor. Na primeira que abriu, o homem se dizia arrependido pela publicação e lamentava o fracasso do livro. Ficou preocupado e abriu a segunda carta enviada. O editor tinha mudado de idéia. Contava que Os sertões já era um sucesso, vendera mil exemplares em seis dias - um número exorbitante para a época. Por fim, o editor aconselhava Euclides a voltar logo para dar entrevistas. O que ele fez imediatamente, depois de passado o susto. O livro é hoje um dos maiores fenômenos editoriais brasileiros, com mais de 50 edições em 97 anos.
Sequência de tragédias
Decidiu abandonar a carreira militar, mas antes usou a engenharia para chefiar a Comissão de Reconhecimento do Alto Purus, na fronteira do Acre com o Peru, em 1904. A missão de Euclides era preparar um mapa das nascentes do rio Purus. A expedição levou dois anos e foi uma sequência de tragédias. O jornalista contraiu malária logo no início da aventura e quase morreu. Saindo de Manaus, a tropa foi obrigada a abandonar os barcos a vapor, que deixaram de funcionar, e fazer boa parte do percurso a pé, se arrastando pelas águas. Como se não bastasse, a canoa que levava os mantimentos afundou. Só depois de quatro meses chegaram à cabeceira do rio, famintos. Na volta, denunciou nos jornais o trabalho escravo nos seringais do Acre e defendeu a preservação do meio ambiente. Seus mapas serviram de base para a delimitação da fronteira entre Brasil e Peru. Em 1906, chegando ao Rio, onde morava com a família, encontrou Ana Ribeiro, sua esposa, grávida de poucos meses. Era impossível que Euclides fosse o pai. Só três anos depois descobriu que o amante era o oficial Dilermando de Assis, de 17 anos. Saiu de casa armado, em 15 de agosto de 1909, dizendo que iria "lavar a honra com sangue". Mas não teve sucesso. Na estrada Real de Santa Cruz, no bairro da Piedade, encontrou o jovem e atirou duas vezes, mas errou ambas. Dilermando, ótimo atirador, respondeu com um tiro na testa de Euclides, que morreu ali mesmo. Tinha 43 anos e ocupava a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras.
VOCÊ SABIA?
Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, foi o engenheiro responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo (SP). A obra demorou três anos para ficar pronta e, alguns meses depois de inaugurada, a ponte simplesmente ruiu. Ele não se deu por vencido e a reconstruiu. Mas, por via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro.
OBRA-PRIMA:
· Os sertões (1902)
· Castro Alves e seu tempo - conferência publicada (1907)
· Contrastes e confrontos - reunião de artigos (1907)
· Peru versus Bolívia - reunião de artigos (1907)
· À margem da história (1909)
· Canudos - Diário de uma expedição (1939)
Fonte: http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/literatura/lit10.htm
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