O homem de bigodinho ralo e sobrancelhas de taturana jogava xadrez na redação da Revista do Brasil, numa noite de 1920, quando um amigo lhe contou a história maluca de um peixinho que passou muito tempo fora d'água e desaprendeu a nadar. Pronto. Monteiro Lobato perdeu o jogo, mas deu início à revolução na literatura infantil brasileira. Escreveu A história do peixinho que morreu afogado, o primeiro dos contos que até hoje ocupam espaço nobre nas estantes dos pequenos leitores. Os personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo começavam a substituir as capas pouco atraentes, figuras sem graça e enredos entediantes dos livros infantis.
Bengala do pai
Monteiro Lobato nasceu a 18 de abril de 1882 na cidade paulista de Taubaté, como José Renato. Mudou de nome para José Bento por causa de uma bengala do pai, com as iniciais J.B.M.L. Lobato, ou simplesmente o Juca para os familiares, nunca escondeu a preferência pelas artes plásticas. Mas, para uma família dona de vastas plantações de café, falar em ser pintor ou crítico de arte era mais escandaloso que ver uma provocativa donzela com a saia na altura do joelho. Exigência do avô e tutor, o Visconde de Tremembé - os pais morreram quando ele era adolescente -, formou-se em Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo. "Aprendi mais no Café Guarany do que na sala de aula", desapontou os conterrâneos, ao ser recebido com festa em Taubaté, após a formatura.
Indignado pelas queimadas nas terras herdadas do avô, em 1914 publicou texto no jornal O Estado de S. Paulo que gerou repercussão nacional. Dos aritigos seguintes brotava Jeca Tatu, o símbolo do caipira abandonado ao seu atraso e miséria pelo governo. Também no Estado vociferou contra os modernistas da Semana de 1922. Certa vez, resumiu ao então jovem Érico Veríssimo seu veredicto sobre o movimento: "O escritor de verdade escreve naturalmente como quem mija. Não vá muito atrás dessas novidades que andam por aí e que na maioria dos casos não passam de truques inventados por quem não sabe contar estórias."
Como editor, Lobato vendeu as fazendas para importar maquinário estrangeiro de última geração. A Companhia Gráfico Editora Monteiro Lobato foi a maior do gênero na América Latina, mas a crise energética e a rivalidade com o presidente Artur Bernardes a levaram à falência. As decepções não pararam por aí. Voltou de Nova York, onde foi adido comercial de 1927 a 1931, disposto a investir na produção do ferro e na exploração do petróleo - para ele, o único caminho para transformar o Brasil numa grande potência. Percorreu o País falando ao povo e descobriu algumas gotas em Alagoas, mas esbarrou na influência dos grupos estrangeiros. "Tenho medo da oposição que luta com talões de cheque." Lobato só perdeu dinheiro. Crítico da política brasileira de minérios, passou três meses na prisão, em 1941.
Dínamo ambulante
Nem a morte de dois dos quatro filhos o fez sucumbir. "Não ficou lamentando, era um dínamo ambulante", garantiu a ISTOÉ sua neta, Joyce Campos Kornbluh, 69 anos. Aos poucos, Lobato deixava de escrever para os adultos e se dedicava às histórias infantis. Pintava aquarelas - e bem - nas horas vagas. Na velhice, o sono não era um grande adversário das letras. Levantava-se às três horas da madrugada para datilografar seus contos até as oito, para desespero dos vizinhos. Depois ia para a Editora Brasiliense, da qual tornara-se sócio. À tarde, recebia leitores mirins, que pediam para virar personagens das histórias. Sempre eram atendidos. Dois dias antes do derrame que o vitimou, em 4 de julho de 1948, Monteiro Lobato afirmou: "Eu perdi muito tempo escrevendo para gente grande, que é uma coisa que não vale a pena."
VOCÊ SABIA?
Adorava café com farinha de milho, rapadura e içá torrado (a bolinha traseira da formiga tanajura), além de Biotônico Fontoura. "Para ele, era licor", diverte-se Joyce, a neta do escritor. Também tinha mania de consertar tudo. "Mas para arrumar uma coisa, sempre quebrava outra."
OBRA-PRIMA:
· Cidades mortas (1919)
· As reinações de Narizinho (1931)
· Emília no país da gramática (1934)
· A chave do tamanho (1942)
Fonte: http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/literatura/lit3.htm
Bengala do pai
Monteiro Lobato nasceu a 18 de abril de 1882 na cidade paulista de Taubaté, como José Renato. Mudou de nome para José Bento por causa de uma bengala do pai, com as iniciais J.B.M.L. Lobato, ou simplesmente o Juca para os familiares, nunca escondeu a preferência pelas artes plásticas. Mas, para uma família dona de vastas plantações de café, falar em ser pintor ou crítico de arte era mais escandaloso que ver uma provocativa donzela com a saia na altura do joelho. Exigência do avô e tutor, o Visconde de Tremembé - os pais morreram quando ele era adolescente -, formou-se em Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo. "Aprendi mais no Café Guarany do que na sala de aula", desapontou os conterrâneos, ao ser recebido com festa em Taubaté, após a formatura.
Indignado pelas queimadas nas terras herdadas do avô, em 1914 publicou texto no jornal O Estado de S. Paulo que gerou repercussão nacional. Dos aritigos seguintes brotava Jeca Tatu, o símbolo do caipira abandonado ao seu atraso e miséria pelo governo. Também no Estado vociferou contra os modernistas da Semana de 1922. Certa vez, resumiu ao então jovem Érico Veríssimo seu veredicto sobre o movimento: "O escritor de verdade escreve naturalmente como quem mija. Não vá muito atrás dessas novidades que andam por aí e que na maioria dos casos não passam de truques inventados por quem não sabe contar estórias."
Como editor, Lobato vendeu as fazendas para importar maquinário estrangeiro de última geração. A Companhia Gráfico Editora Monteiro Lobato foi a maior do gênero na América Latina, mas a crise energética e a rivalidade com o presidente Artur Bernardes a levaram à falência. As decepções não pararam por aí. Voltou de Nova York, onde foi adido comercial de 1927 a 1931, disposto a investir na produção do ferro e na exploração do petróleo - para ele, o único caminho para transformar o Brasil numa grande potência. Percorreu o País falando ao povo e descobriu algumas gotas em Alagoas, mas esbarrou na influência dos grupos estrangeiros. "Tenho medo da oposição que luta com talões de cheque." Lobato só perdeu dinheiro. Crítico da política brasileira de minérios, passou três meses na prisão, em 1941.
Dínamo ambulante
Nem a morte de dois dos quatro filhos o fez sucumbir. "Não ficou lamentando, era um dínamo ambulante", garantiu a ISTOÉ sua neta, Joyce Campos Kornbluh, 69 anos. Aos poucos, Lobato deixava de escrever para os adultos e se dedicava às histórias infantis. Pintava aquarelas - e bem - nas horas vagas. Na velhice, o sono não era um grande adversário das letras. Levantava-se às três horas da madrugada para datilografar seus contos até as oito, para desespero dos vizinhos. Depois ia para a Editora Brasiliense, da qual tornara-se sócio. À tarde, recebia leitores mirins, que pediam para virar personagens das histórias. Sempre eram atendidos. Dois dias antes do derrame que o vitimou, em 4 de julho de 1948, Monteiro Lobato afirmou: "Eu perdi muito tempo escrevendo para gente grande, que é uma coisa que não vale a pena."
VOCÊ SABIA?
Adorava café com farinha de milho, rapadura e içá torrado (a bolinha traseira da formiga tanajura), além de Biotônico Fontoura. "Para ele, era licor", diverte-se Joyce, a neta do escritor. Também tinha mania de consertar tudo. "Mas para arrumar uma coisa, sempre quebrava outra."
OBRA-PRIMA:
· Cidades mortas (1919)
· As reinações de Narizinho (1931)
· Emília no país da gramática (1934)
· A chave do tamanho (1942)
Fonte: http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/literatura/lit3.htm
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